Que nem limão

Que nem limão

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Votos

Não fui procurar a palavra "votos" no dicionário. Também não tem nenhum epílogo do Freud ou da Eliane Brum. Começo dizendo uma frase de minha autoria, uma que você odeia: Você é uma pessoa melhor do que eu.

Eu falava muito isso quando nosso namoro começou. E isso sempre te incomodou. Mas dizer isso nunca foi uma queixa, muito menos autodepreciação. Para mim era uma constatação em situações muito específicas: aquelas em que eu me admirava pela maneira como você trata o outro. Especialmente quando esse outro sou eu.

Um casal inusitado. É um belo eufemismo pra chamar um gordinho boa praça e uma polaca pau no cu. Eu sempre tive curiosidade em saber os motivos que levaram essa amiga em comum a dizer isso sobre nós. Então eu mandei um e-mail perguntando. Sim, eu fiz isso e ela me respondeu o seguinte:

"Tratava-se da delicadeza e da organização (que para mim a caracterizavam) unidas a certo relaxamento e despojamento do Wyllian. [...] Aos poucos, contudo [...] percebi que vocês compartilhavam muitas ideias e variados interesses, eram mais parecidos do que eu poderia imaginar inicialmente. Hoje, retrospectivamente, penso: eram mais parecidos do que pensei ou isso já seria o resultado da união?".


Acho que continuamos muito diferentes, eu e você. Mas o resultado dessa união é que gostamos dessa diferença, jamais pretendemos anulá-la ou nos tornar um só, esse não é nosso plano. Só que a partir de hoje essa diferença vai ser vivida bem de pertinho.

Esse inusitado me invade quando eu olho para as pessoas que vieram ver a gente hoje, e entendo que estamos casando: não era isso que eu tinha em mente quando eu prestei atenção em você pela primeira vez, nem quando coloquei Los Hermanos pra tocar no jukebox do bar birô. Eu juro, eu só queria te pegar.

Queria contar pra todo mundo aqui que não foi amor a primeira vista. Eu vi você várias vezes antes de te olhar. Mas quando a gente conversou pela primeira vez, foi-se o boi com a corda, porque eu sou uma fã das palavras. E as suas causaram efeito em mim. Não fui mais a mesma. Você até hoje é a pessoa com quem eu mais gosto de conversar. Você tem efeito calmante sobre mim. É meu amor tranqüilo.

A música que eu escolhi para entrar hoje chama-se "nada pra mim". Eu escolhi essa música porque entendi que queria casar com você, quando eu parei de achar que era você quem precisava me dar amor, atenção, dedicação.

 Não que você não precise, mas entendi que nosso relacionamento era uma via de mão única, a sua. Eu me envergonhei.  Hoje eu entendo que o casamento em si é um voto. Não um voto de que o outro seja amoroso, respeitoso e dedicado. Mas o voto de que eu consiga ser tudo isso pra você, porque você é. E é por isso que você era melhor do que eu, porque você já sabia disso, ninguém precisou te contar. Porque você é a pessoa que eu conheço mais capaz de olhar pro outro. Por isso hoje eu não quero nada pra mim. Mas quero que, junto de mim, você tenha dias felizes, acredite no amor, no poder de cura das palavras e de um pão com chocolate que a gente vai dividir no café da manhã.

Hoje eu não digo mais com tanta frequência que você é uma pessoa melhor. É que eu penso que me tornei melhor do que eu era quando te conheci. Taí uma excelente razão para casar. Case com alguém que te faça mudar de posição. Senão, será que compensa?

 Finalmente, porque você já deve estar de cara com votos que não servem em 140 caracteres, queria te contar uma história.

 Eu tive um professor de matemática muito bom e eu adorava aulas de geometria. Numa dessas aulas ele ensinou que duas retas paralelas jamais se encontram.

Por um bom tempo eu achei que eu e você fossemos duas retas paralelas. A gente estava lado a lado. Mas o encontro, o ponto de interseção, que difícil de achar... Quando você foi para Brasília, nos distanciamos muito. Tivemos uma grande briga que me mostrou que você não estava disposto a aguentar a minha indiferença. Foi quando eu aprendi que eu não era indiferente coisa nenhuma. Que eu sofria. Foi quando começamos a nos encontrar. Lembrei dessa história das retas paralelas...

Descobri que no plano euclidiano, finito, de fato, elas jamais se encontram. Mas que há um plano projetivo que afirma que elas encontram-se no infinito. Um voto é um plano projetivo, é projetar no futuro o que se espera para além. Você me tirou do conforto de um plano finito. Você me ensinou que o rio tem uma terceira margem e que é preciso buscá-la. E nosso infinito está começando agora e isso me deixa imensamente feliz. Amo você!

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